segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A COMPANHIA DE SANTO AMARO EM 1932 NA OBRA DE PAULO NOGUEIRA FILHO – 2ª Parte

Continuando o post de 09/09/2015, apresentamos mais uma referência aos voluntários de Santo Amaro na Revolução Constitucionalista de 32 contida na obra de Paulo Nogueira Filho.

No primeiro tomo, quarto volume do livro “A Guerra Cívica” narra o autor os acontecimentos dos quais tomou parte a Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro (CIESA) no mês de agosto de 1932.

Mais uma vez, com o escopo de preservar, resgatar e dar conhecimento às novas gerações sobre a participação dos soldados de Santo Amaro na grande Epopeia de 32 transcrevemos abaixo mais uma parte da obra deste grande paulista.





PAULO NOGUEIRA FILHO

“XVII – Litoral Sul - O destacamento do coronel Melo Matos estendia sua área de atuação ao sul, até os limites do Estado do Paraná. Zona imensa na sua extensão e abrangendo dois vastos setores, igualmente sujeitos à invasão do inimigo: o das praias ia das de Itanhaém à Peruíbe até a da Liga, bem mais ao sul; o da hinterlândia abrangia uma centena de municípios, possuindo o mais precário dos sistemas de comunicações existente na época. Toda essa vasta extensão territorial, aberta em diversos pontos à penetração das forças sulinas, cujos efetivos, segundo os comunicados oficiais, crescia de dia para dia, era guardada apenas pelos moços que em Santo Amaro, sub o auspício do prefeito local, formaram, sob o comando do tenente Luis Martins de Araújo, a Companhia Isolada do Exército, nas condições já vistas.

Nos primeiros dias de agosto, parte do efetivo dessa unidade, já então na ponta da linha Santos-Juquiá, teve por missão ir ao encontro dos retirantes constitucionalistas, que de Apiaí desciam a serra por Iporanga, a fim de atingir o Vale do Ribeira, num esforço heroico para não se entregar ao inimigo, depois da desastrada queda da Capela do Ribeira. O encontro dos soldados de Santo Amaro com os que enfrentaram o episódio da retirada de Apiaí representou, para os primeiros, um quadro inesquecível de colorido dantesco. A ele me referirei com minúcias logo a seguir, no próximo capítulo.

Contudo, quero desde logo assinalar que, socorridos os feridos, reanimados os homens válidos, voltaram os retirantes à luta, seguindo para a Capital, via Santos, cidade esta que lhes ofereceu a mais carinhosa e alentadora acolhida.

Mas, se era natural que assim sucedesse, não era menos plausível que os ditatoriais, dispondo de recursos de toda ordem, viessem no encalço dos retirantes. Na previsão dessa eventualidade, Melo Matos entende-se com o tenente Araújo para que uma força da Companhia de Santo Amaro desse cobertura aos homens de Apiaí, naqueles momentos de angústia, até que se clareasse a situação. Para essa missão delicadíssima foi destacado um contingente, composto de homens destemidos, tendo a frente o tenente, subcomandante Mouphir Monteiro. Essa força pequena, mas decidida e bem comandada, postou-se nas imediações da então cidade de Xiririca, hoje Eldorado.

A CIDADE DE ELDORADO NOS DIAS DE HOJE

Aconteceu, porém, que o pior que esses bravos esperavam não sucedeu. O inimigo, ou pelo menos o grosso das forças vitoriosas em Ribeira, diante dos terríveis obstáculos a enfrentar – os mesmos que os constitucionalistas transpuseram – não prosseguiram na perseguição dos vencidos. Ficaram nas alturas de Iporanga e na Estrada São Paulo – Curitiba.

Não obstante, vindos das bandas do Paraná, uma força ditatorial de cavalaria estaciona em Xiririca. É numerosa e está bem municiada. Mouphir raciona com inteligência: tratar-se-ia da vanguarda de uma tropa destinada a marchar por terra para Santos. Não vacila: vai ao seu encontro e trava com ela embate de que os constitucionalistas saem integralmente vitoriosos.  O valoroso voluntário João Stevenson telegrafa a Pedro de Toledo: “Tenho a honra de participar ao amigo que ontem, após o combate, nossa Companhia de Guerra de Santo Amaro, sob o comando do tenente Mouphir, derrotou tropa da ditadura. Foram secundados por soldados tenente Feliciano da Força Pública. Entramos vitoriosos em Xiririca às 10 horas do mesmo dia. Os adversários tiveram duas baixas, quatro feridos e cinco presos. Apreendemos cavalos, fuzis e grande cópia de munições. Os nossos soldados se portaram com brilho inexcedível.”

Os ditatoriais recuam em direção à fronteira do Paraná, mas detêm-se aqui e ali, recebendo reforços. De todo modo a Companhia Isolada do Exército, cujos efetivos crescem à medida que a luta aumenta, não só detém as forças ditatoriais da região, postas sob o comando do coronel Francisco Trota, mas também avança resoluta em direção à fronteira com o Paraná. Por incrível que pareça, o coronel Melo Matos, no comando da praça de guerra de Santos e do litoral sul, malgrado seus reduzidos efetivos e a deficiência de suas armas e munições, ainda encontra meios de enviar Oscar Stevenson como ligação ao coronel Taborda, em Itapetininga, visando providências de alcance estratégico! Mas essa é uma outra história, uma odisseia que o próprio autor, por certo, contará.”

REFERÊNCIAS

NOGUEIRA FILHO, Paulo. A Guerra Cívica 1932: Ideais e Lutas de um Burguês Progressista, 4º Volume, 1º Tomo, p.253/254. São Paulo: Editora José Olympio.

Prefeitura Municipal da Estância Turística de Eldorado http://www.eldorado.sp.gov.br/ (acesso em 18/01/2015)



quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

CORONEL ROMÃO GOMES

“Como é possível conseguir de uma tropa que conserve sempre o espírito ofensivo dos primeiros dias, ou melhor, a eficiência cada dia mais aumentada? Muito fácil. Apenas três coisas deve fazer o chefe. Alimentar os homens, fazer-lhes justiça, conduzi-los. O que tudo se pode resumir nesta expressão: comandar a tropa!”
Romão Gomes, 1933

ROMÃO GOMES

Romão Gomes nasceu em 27 de junho de 1890 na cidade de São Manoel do Paraíso, São Paulo. Sentou praça na Força Pública de São Paulo junto ao 2º Batalhão de Caçadores Paulistas em 13 de julho de 1914. Promovido a cabo em 8 de julho de 1915, a furriel em 1º de outubro de 1916, a  2º sargento em 17 de março de 1917.  Em 1º de maio de 1921 matriculou-se como aluno do Curso Especial Militar do Corpo Escola (embrião da atual Academia de Polícia Militar do Barro Branco) de onde saiu declarado aspirante-a-oficial em 18 de janeiro de 1923. Foi promovido a 2º tenente em 14 de agosto de 1923, por estudo. Em 4 de novembro de 1924 foi promovido a 1º tenente e em 21 de julho de 1925 a capitão. Estas duas últimas promoções em decorrência de sua participação defendendo a legalidade na revolta tenentista de 1924 na cidade de São Paulo.

Participou ainda, novamente ao lado da legalidade, da Revolução de 1930 em São Paulo e no Paraná. Em todas as campanhas das quais participou recebeu elogios pela bravura, ardor militar e sentimento patriótico. Prestou ainda relevantes serviços ajudando a população durante o surto de gripe espanhola que assolou a capital em 1918. Quando promovido a capitão foi classificado no Curso Especial Militar inicialmente como professor de instrução militar e depois como titular da cadeira de matemática do referido curso.

De origem humilde, com muito esforço conseguiu concluir o 2º grau no Ginásio do Estado concomitantemente com o desempenho de suas funções na Força Pública. Demonstrando ainda grande determinação e empenho nos estudos, o “meganha” Romão conseguiu ser aprovado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Lá diplomou-se e colou grau no curso de ciências jurídicas e sociais em abril de 1932 (Turma 101).

Teve participação de destaque durante a Revolução de 1932. Já em 10 de julho desfilava pelas ruas da capital como comandante do 1º Batalhão Paulista de Milícia Civil (1º BPMC), batalhão composto basicamente por voluntários que atenderam o chamado da nobre causa constitucionalista. De todos os batalhões de voluntários constituídos durante a Revolução, talvez tenha sido o 1º BPMC o mais vitorioso. Formado por aproximadamente 450 jovens, teve apenas quinze baixas durante o conflito: 3 mortos e 12 feridos. Unido a outros batalhões formou a famosa Coluna Romão Gomes.  Este contingente esteve em combate no Setor Leste, divisa com Minas Gerais, nas cidades atendidas pela antiga Estrada de Ferro Mogiana como, por exemplo, São José do Rio Pardo, São João da Boa Vista, Águas da Prata, Caconde, São Sebastião da Grama, Casabranca, etc. A Coluna Romão Gomes ficou famosa por não ter perdido nenhuma batalha durante toda a campanha, por isso recebendo a alcunha de “Coluna Invicta”.

Romão Gomes (dir.) transmite ordens a um oficial na estação de Casabranca em setembro de 1932


Líder nato, dizia-se capaz de transformar qualquer jovem voluntário em um verdadeiro combatente a serviço da lei e da ordem. Os feitos de seu batalhão chegavam dia a dia à capital, pelos jornais e pelo rádio, fazendo de Romão Gomes um dos mais conceituados líderes militares da Revolução.

Devido ao enorme prestígio conseguido durante a campanha militar revolucionária, o então capitão Romão Gomes seria, durante o movimento, promovido a major e a tenente-coronel.

Ao final da Revolução foi preso e exilado. Anistiado, retorna ao país e recupera seu posto e sua patente na Força Pública. Em 1935 é eleito deputado para a constituinte estadual.

Em 1937, já no posto de coronel e após haver ocupado o cargo de Consultor Jurídico da Força Pública, integrou a primeira turma de juízes do Tribunal de Justiça Militar de São Paulo do qual foi presidente entre 1939 e 1944.



Desde 15 de dezembro de 1975 empresta seu nome ao presídio da Polícia Militar de São Paulo.

Faleceu em 10 de janeiro de 1946, aos 55 anos, na cidade de São Paulo.

Seus restos repousam hoje no Mausoléu ao Soldado Constitucionalista do Ibirapuera.


REFERÊNCIAS

LEVY, Herbert – A Coluna Romão Gomes. São Paulo, Ed. Saraiva, 1933.

Jornal Folha da Manhã de 14 de setembro de 1932




http://www.arcadas.org.br