quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A COMPANHIA DE SANTO AMARO EM 1932 NA OBRA DE PAULO NOGUEIRA FILHO – 1ª Parte


Nascido em São Paulo em 16/11/1898, o político e latifundiário paulista Paulo Nogueira Filho foi personagem de destaque durante a Revolução de 32.

Antes, em 1926, ajudou a fundar o Partido Democrático e em 1930 fez parte da Aliança Liberal que levou Getúlio Vargas ao poder após a Revolução de outubro do mesmo ano.
Até 1931, ocupou a Secretaria de Compras do Ministério da Fazenda de Vargas, pasta então comandada pelo banqueiro paulista José Maria Whitaker.

Em 1932, foi um dos principais articuladores da Frente Única Paulista, união dos partidos Democrático e Republicano Paulista, que fazia oposição ao governo Vargas e que se constituiu no grande braço político da Revolução Constitucionalista.

Entre as décadas de 50 e 60, Paulo Nogueira Filho publicou sua monumental obra, organizada em seis volumes, intitulada: “A Guerra Cívica 1932: Ideais e Lutas de um Burguês Progressista”.

Faleceu em 30/10/1969 sem conseguir terminar sua obra a qual contém algumas poucas referências à participação de Santo Amaro na Revolução.

No segundo tomo do terceiro volume da obra há um capítulo destinado à Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro - CIESA. Neste narra a formação da companhia e as operações militares das quais fez parte o contingente santamarense até o final de julho de 1932.

Com o escopo de preservar, resgatar e dar conhecimento às novas gerações sobre a participação dos soldados de Santo Amaro na grande Epopeia de 32 transcrevemos abaixo parte da obra deste grande paulista.

Paulo Nogueira Filho 




Companhia Isolada do Exército

A ação do Destacamento da Serra não se limitou à praça militar santista, à guarda da ferrovia São Paulo - Santos e da usina elétrica do Cubatão, bem como à vigilância nas praias e recôncavos da costa próximas ao grande porto.  Abrangeu igualmente a defesa de toda a zona da Mayrink-Santos, da Santos-Juquiá, e da região que medeia entre a última estação desta ferrovia e extremo sul do Estado de São Paulo.

Tendo em conta a extensão desta região, o acidentado de sua topografia, a rarefação e pobreza da população, bem como as dificuldades de transporte, então aí existentes, é fácil conceber os prodígios que se impuseram aos homens incumbidos da defesa desse setor. Foi ela, entretanto, realizada com indizível espirito de sacrifício e bravura por um punhado de voluntários civis, gente da elite, agremiada em Santo Amaro pelo prefeito Francisco Ferreira Lopes e posta sob o comando de um oficial do Exército. Klinger dedica a essa tropa as cinco linhas seguintes: “Em conexão com o Destacamento do Alto da Serra, a 17 de julho foi nomeado o 2º Tenente-aviador Luis Martins de Araújo – apresentado a 14 – para comandar a Companhia de Guerra organizada pela Prefeitura de Santo Amaro a qual agirá no setor da Serra do Mar, trecho da estrada de rodagem que acompanha a linha Mayrink-Santos.”

Francisco Ferreira Lopes - Prefeito de Santo Amaro em 1932

Bem entendido: os objetivos enunciados pelo General são apenas os de início assinados a esse contingente. Logo eles se estenderão a uma esfera de ação amplíssima. Malgrado esse fato, nos livros e crônicas da Guerra Cívica, pouquíssimas são as referências a essa coluna que no Destacamento de Mello Matos prestou serviços de guerra indeléveis à causa paulista. Creio que isso se explica apenas por condenável modéstia de seus integrantes, entre os quais se encontrava o professor Oscar Penteado Stevenson. É, entretanto, imprescindível que sua história venha a lume, como revelação de aspectos dos mais belos e característicos da Guerra Cívica.

Oscar Penteado Stevenson

O contingente é composto todo ele de voluntários, alistados por puro idealismo, que partem para o cumprimento de missões, entre as quais algumas chegaram a ser julgadas superiores à capacidade de seus executores, soldados mal preparados e dispondo de materiais de guerra precaríssimos.

Esteados na confiança que tinham em si mesmos e na vontade férrea de concorrer para a libertação de sua terra, adaptaram-se os jovens componentes dessa “Companhia Isolada do Exército” às piores condições ambientes, realizando prodigiosas improvisações no preparo e improvisação das ações bélicas que tiveram a seu cargo. Não raro, em dias ou horas apenas, transformaram-se em destemidos e destros guerrilheiros.

Outro aspecto extraordinário a ressaltar nesse núcleo de combatentes do Litoral Sul é que, inicialmente formado por moços por padrões altos de bem-estar, conforto e segurança, ele se vai ampliando, à medida que aumentam os sacrifícios pessoais e os riscos coletivos! Seu efetivo, em vez de se restringir, se ensancha, com as sucessões de adesões espontâneas e de valia trazida pela caboclada da região e por inúmeros nordestinos, que, em fases árduas da luta, se irmanaram com os voluntários de Santo Amaro, enfileirando-se entre os melhores e mais ardorosos combatentes, tal como esse heroico Delmiro Sampaio que sacrificou conscientemente sua vida em combate para salvar seu comandante!

Esse punhado de bravos, na primeira semana da Guerra partiu para o alto da Serra, na linha Mayrink-Santos. Enquadrados no Destacamento Mello Matos, dois dias após tiverem ordem de se movimentar rumo à Juquiá, o que fizeram por Santos. Estacionaram primeiramente na ponta dos trilhos da estrada de ferro, organizando, como lhes cumpria, eficiente vigilância em profundidade da direção da fronteira do Paraná. Nessa ocasião chega-lhes a dolorosa notícia do que ocorrera em Itararé, Faxina e Apiaí.
Ao encontro dos retirantes do combate travado nesta última localidade, seguiu prontamente um dos pelotões da Companhia Isolada.

Mas, aí, já no mês de agosto, começa outra fase da Epopeia em que veremos em ação esses combatentes, que nunca foram vencidos!

Soldados da Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro em 1932



Bibliografia

NOGUEIRA FILHO, Paulo. A Guerra Cívica 1932: Ideais e Lutas de um Burguês Progressista, 3º Volume, 2º Tomo, p.369/371. São Paulo: Editora José Olympio.

GUERRA, Juvencio; GUERRA, Jurandyr. ALMANACK COMEMORATIVO DO 1º CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO. São Paulo: Graphico Rossolillo.

WIKIPÉDIA (pt.wikipedia.org) – acesso em 08/09/2015

bernardoschmidt.blogspot.com.br - acesso em 08/09/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário