quinta-feira, 12 de março de 2015

SANTO AMARO E O NOVE DE JULHO





Santo Amaro e São Paulo sempre marcharam juntos na luminosa história de nosso amado torrão natal. Quem se dispuser a analisar o nascimento e o crescimento da metrópole paulistana, encontrá, sem dúvida, plasmada em magníficos feitos de arrojo e patriotismo, a colaboração eficiente da gente santamarense que jamais mediu sacrifícios para auxiliar a sua co-irmã de quatrocentos anos.

Por isso mesmo as datas históricas paulistanas são, igualmente, fatos grandiosos para Santo Amaro que, seguindo-lhe os exemplos, caminha para uma situação de inenarrável grandeza, unindo-se assim as duas cidades, num todo indissolúvel e que mostrará à posteridade como duas regiões que poderiam degladiar-se na conquista de uma superioridade tão desejada, souberam coligar-se para seguirem igual destino e igual caminho sem recalques de ódio ou de inveja. Uma prova do que afirmamos reside, sem dúvida na recente demonstração de paulistanidade que se verificou em 9 de julho próximo passado, quando a maior data brasileira do após independência foi condignamente festejada por todos os filhos desta cidade como se a efeméride fosse realmente sua, unicamente sua.

Vimos, nós cidadãos de Santo Amaro, com orgulho insopitável, raiar aquele dia que relembrou o da redenção nacional ocorrido vinte e dois anos antes, não havendo ninguém que se mantivesse frio e impassível diante de tão magnífico evento. A cidade ficou em festas; o povo vibrou pelas ruas embandeiradas; a mocidade fremiu de patriotismo e sentiu o mesmo desejo de sacrificar a vida, se necessário fosse, para que o Brasil continue livre e para que São Paulo seja exaltado.

Diante daquela exuberante demonstração de elevado patriotismo, não pudemos, nós também, conter o sentimento avassalador que nos apoderou, que nos fez retroceder através dos anos, rememorando aqueles dias de sacrifícios, de sofrimento físico, de incertezas, mas que eram preenchidos totalmente pela satisfação espiritual de que estávamos lutando por um princípio de justiça e de liberdade. Foram três meses de lutas e canseiras tremendas nas trincheiras, mas ninguém, dos que ficaram na retaguarda, descansavam mais. Velhos, moços, mulheres e crianças, todos, em suma, trabalhavam arduamente e, se no "front" a juventude combatia, sob a direção dos homens mais experientes, nas cidades e vilas as mulheres e crianças prestavam a sua ajuda eficaz, quer costurando uniformes, manipulando remédios, preparando refeições, fabricando munição e fundindo capacete de aço...

Foram dias de gloriosa existência vivida por um povo forte a audaz, um povo que mostrou a seus irmãos de todo o Brasil que sabia lutar tanto como construir a golpes de audácia a sua maravilhosa civilização e progresso indestrutíveis. Se, agora, com o coração amargurado, verificamos que uma pleiade de maus paulistas e de maus brasileiros estão conduzindo o nosso Estado à ruína, ao nosso coração repugna aceitar essa verdade quando no "écran" do pensamento outra verdade mais palpitante surge para combater a nossa tristeza: a de que um outro 9 de julho poderá surgir a qualquer momento, porque o fogo sagrado que ardeu na alma dos paulistas de 32, ainda está latente no sentimento de todos os bandeirantes de hoje. 

Por Venâncio de Mello


Publicado na Revista Interlagos edição de julho de 1954

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