A COMPANHIA DE SANTO AMARO
EM 1932 NA OBRA DE PAULO NOGUEIRA FILHO – 2ª Parte
Continuando o post de
09/09/2015, apresentamos mais uma referência aos voluntários de Santo Amaro na
Revolução Constitucionalista de 32 contida na obra de Paulo Nogueira Filho.
No primeiro tomo, quarto
volume do livro “A Guerra Cívica” narra o autor os acontecimentos dos quais
tomou parte a Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro (CIESA) no mês de agosto de
1932.
Mais uma vez, com o escopo
de preservar, resgatar e dar conhecimento às novas gerações sobre a
participação dos soldados de Santo Amaro na grande Epopeia de 32 transcrevemos
abaixo mais uma parte da obra deste grande paulista.
PAULO NOGUEIRA FILHO |
“XVII
– Litoral Sul - O destacamento do coronel Melo Matos estendia sua área de
atuação ao sul, até os limites do Estado do Paraná. Zona imensa na sua extensão
e abrangendo dois vastos setores, igualmente sujeitos à invasão do inimigo: o
das praias ia das de Itanhaém à Peruíbe até a da Liga, bem mais ao sul; o da
hinterlândia abrangia uma centena de municípios, possuindo o mais precário dos
sistemas de comunicações existente na época. Toda essa vasta extensão
territorial, aberta em diversos pontos à penetração das forças sulinas, cujos efetivos,
segundo os comunicados oficiais, crescia de dia para dia, era guardada apenas
pelos moços que em Santo Amaro, sub o auspício do prefeito local, formaram, sob
o comando do tenente Luis Martins de Araújo, a Companhia Isolada do Exército,
nas condições já vistas.
Nos
primeiros dias de agosto, parte do efetivo dessa unidade, já então na ponta da
linha Santos-Juquiá, teve por missão ir ao encontro dos retirantes
constitucionalistas, que de Apiaí desciam a serra por Iporanga, a fim de
atingir o Vale do Ribeira, num esforço heroico para não se entregar ao inimigo,
depois da desastrada queda da Capela do Ribeira. O encontro dos soldados de
Santo Amaro com os que enfrentaram o episódio da retirada de Apiaí representou,
para os primeiros, um quadro inesquecível de colorido dantesco. A ele me
referirei com minúcias logo a seguir, no próximo capítulo.
Contudo,
quero desde logo assinalar que, socorridos os feridos, reanimados os homens
válidos, voltaram os retirantes à luta, seguindo para a Capital, via Santos,
cidade esta que lhes ofereceu a mais carinhosa e alentadora acolhida.
Mas,
se era natural que assim sucedesse, não era menos plausível que os ditatoriais,
dispondo de recursos de toda ordem, viessem no encalço dos retirantes. Na
previsão dessa eventualidade, Melo Matos entende-se com o tenente Araújo para
que uma força da Companhia de Santo Amaro desse cobertura aos homens de Apiaí,
naqueles momentos de angústia, até que se clareasse a situação. Para essa
missão delicadíssima foi destacado um contingente, composto de homens
destemidos, tendo a frente o tenente, subcomandante Mouphir Monteiro. Essa
força pequena, mas decidida e bem comandada, postou-se nas imediações da então
cidade de Xiririca, hoje Eldorado.
A CIDADE DE ELDORADO NOS DIAS DE HOJE |
Aconteceu,
porém, que o pior que esses bravos esperavam não sucedeu. O inimigo, ou pelo
menos o grosso das forças vitoriosas em Ribeira, diante dos terríveis
obstáculos a enfrentar – os mesmos que os constitucionalistas transpuseram –
não prosseguiram na perseguição dos vencidos. Ficaram nas alturas de Iporanga e
na Estrada São Paulo – Curitiba.
Não
obstante, vindos das bandas do Paraná, uma força ditatorial de cavalaria
estaciona em Xiririca. É numerosa e está bem municiada. Mouphir raciona com
inteligência: tratar-se-ia da vanguarda de uma tropa destinada a marchar por
terra para Santos. Não vacila: vai ao seu encontro e trava com ela embate de
que os constitucionalistas saem integralmente vitoriosos. O valoroso voluntário João Stevenson
telegrafa a Pedro de Toledo: “Tenho a honra de participar ao amigo que ontem,
após o combate, nossa Companhia de Guerra de Santo Amaro, sob o comando do
tenente Mouphir, derrotou tropa da ditadura. Foram secundados por soldados
tenente Feliciano da Força Pública. Entramos vitoriosos em Xiririca às 10 horas
do mesmo dia. Os adversários tiveram duas baixas, quatro feridos e cinco
presos. Apreendemos cavalos, fuzis e grande cópia de munições. Os nossos
soldados se portaram com brilho inexcedível.”
Os
ditatoriais recuam em direção à fronteira do Paraná, mas detêm-se aqui e ali,
recebendo reforços. De todo modo a Companhia Isolada do Exército, cujos
efetivos crescem à medida que a luta aumenta, não só detém as forças
ditatoriais da região, postas sob o comando do coronel Francisco Trota, mas
também avança resoluta em direção à fronteira com o Paraná. Por incrível que
pareça, o coronel Melo Matos, no comando da praça de guerra de Santos e do
litoral sul, malgrado seus reduzidos efetivos e a deficiência de suas armas e
munições, ainda encontra meios de enviar Oscar Stevenson como ligação ao
coronel Taborda, em Itapetininga, visando providências de alcance estratégico!
Mas essa é uma outra história, uma odisseia que o próprio autor, por certo,
contará.”
REFERÊNCIAS
NOGUEIRA FILHO, Paulo. A Guerra Cívica 1932: Ideais e Lutas de um
Burguês Progressista, 4º Volume, 1º Tomo, p.253/254. São Paulo: Editora José
Olympio.
Prefeitura Municipal da Estância Turística de Eldorado http://www.eldorado.sp.gov.br/ (acesso em 18/01/2015)