SANTO
AMARO NA REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA:
A
BATALHA POR XIRIRICA
A cidade de Xiririca, hoje Eldorado |
Rebatizada em 1948 com o
nome de Eldorado, a cidade situada às margens do Rio Ribeira de Iguape foi
fundada em 1842 e fez parte do primeiro ciclo do ouro do país no século XVII. Por
mais de um século Eldorado fez parte do itinerário de grandes barcos a vapor
que navegavam pelo Rio Ribeira, partindo de Iguape, levando a produção para a
venda e trazendo mercadorias para consumo. Em 1932 foi palco de alguns
combates importantes da Revolução Constitucionalista dos quais tomaram parte
soldados da Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro – CIESA.
A cidade de Xiririca nos anos 30 |
O Vale do Ribeira não era,
no começo da campanha, o local de operações da CIESA. A ela coube, inicialmente,
a defesa de instalações estratégicas situadas na Baixada Santista como o Porto
de Santos, a Usina Elétrica de Cubatão e os trechos finais das ferrovias
Mairinque-Santos, Santos-Juquiá e São Paulo-Santos. Entretanto, ante as
sucessivas derrotas dos soldados paulistas na divisa com o Paraná foi necessário
o envio da Companhia ao setor Sul-Litorâneo do Estado. No começo de agosto de
32, forças ditatoriais que haviam invadido o Estado pela cidade de Ribeira
conquistaram em seguida a cidade de Apiaí. As forças constitucionalistas que
guarneciam a cidade foram obrigadas a retrair, descendo a Serra de
Paranapiacaba em direção à cidade de Xiririca, passando por Iporanga. Com o intuito de reforçar esse
contingente e impedir a tomada de Xiririca pelos ditatoriais, partiu a CIESA ao
Vale do Ribeira, sobre os trilhos da Santos-Juquiá.
Estrada de Ferro Santos-Juquiá |
Os soldados de Santo Amaro chegaram à região no dia 18 de agosto. Já nesse dia ocorreu pequena escaramuça entre uma patrulha de CIESA e soldados ditatoriais pertencentes à Coluna do Coronel Ayrton Plaisant. Os inimigos recuaram em desordem deixando no campo da luta quatro mortos.
Em 20 de agosto ocorreu o
primeiro grande enfrentamento nas cercanias de Xiririca. Os ditatoriais em
perseguição a elementos dos batalhões Marcílio Franco e Barbosa e Silva (que
haviam recuado de Apiaí) acreditavam que Xiririca era cidade desguarnecida
militarmente. Lá, no entanto, estavam soldados da CIESA (comandados pelo
tenente Mouphir Monteiro) e da Força Pública (comandados pelo tenente
Feliciano) para dar-lhes combate impedindo a entrada dessas tropas na cidade,
tomando-lhes grande quantidade de fuzis, munições, cavalos e víveres. O inimigo
teve 2 baixas (creditadas ao sargento da CIESA Sebastião Rodrigues de Campos) e
4 feridos. As forças constitucionalistas fizeram ainda 5 prisioneiros. As forças ditatoriais recuaram para Itaúna,
bairro afastado de Xiririca.
No dia seguinte, o tenente
João Stevenson da CIESA comunica, por telegrama, ao Governador de São Paulo,
Pedro de Toledo, o sucesso da batalha:
“Tenho a honra de participar ao amigo que ontem, após combate, nossa
companhia de guerra de Santo Amaro, sob o comando do tenente Mouphir, derrotou
as tropas da ditadura. Foram secundados os soldados pelo tenente Feliciano da
Força Pública. Entramos vitoriosos em Xiririca às 10 horas da manhã do mesmo
dia. Os adversários tiveram duas baixas, quatro feridos, cinco presos e apreendemos
cavalos, fuzis e grande cópia de munições. Os nossos soldados se portaram com
brilho inexcedível!” (publicado no Jornal Folha da Manhã de 22 de agosto de
1932).
Em 22 de agosto foi enviado
um pelotão da CIESA ao bairro Itaúna para o qual haviam recuado os inimigos
após os combates do dia 20. Os soldados inimigos mais uma vez bateram em retirada
e rumaram à Batatal, localidade ainda mais afastada do centro de Xiririca.
Entre os últimos dias de
agosto e os últimos dias de setembro forças ditatoriais tentaram sem sucesso tomar
a cidade de Xiririca. Planejavam por essa cidade chagar a Juquiá e de lá
atacar, pela via férrea, a cidade de Santos.
A partir de 30 de setembro o
inimigo iniciou grande operação militar com o escopo de tomar definitivamente Xiririca
e marchar em direção a Santos. O comando
da CIESA, reunido em Pariquera-Açu traçou um plano para proteger Xiririca já totalmente
cercada pelos ditatoriais. Tropas que guarneciam cidades próximas deveriam se
deslocar à Xiririca para colaborar na defesa da posição. Dessa forma duas
colunas compuseram o reforço: a primeira veio em caminhões da cidade de
Jacupiranga e a segunda em barcos, pelo Rio Ribeira, oriunda da cidade de
Registro. No dia seguinte, após renhidos combates, os santamarenses romperam o
cerco e pela segunda vez impediram a invasão da cidade. A batalha se estendeu
até o dia 2 de outubro quando caiu em combate o voluntário
Delmiro Sampaio. Nesse mesmo dia foi assinado, na cidade de Cruzeiro, o
armistício que pôs fim à Revolução Constitucionalista e à bela campanha
empreendida pelos homens de Santo Amaro no Vale do Ribeira.
Referências
Caldeira, João Netto. “Álbum
de Santo Amaro: A História dos Santamarenses”. Ed. Bentivenga e Netto, 1935;
Jornal Folha da Manhã
(edições de 22/08, 02/09 e 15/09 de 1932);
Prefeitura da Estância
Turística de Eldorado (http://www.eldorado.sp.gov.br)
acesso em 10/02/2017.