SANTO AMARO NA REVOLUÇÃO DE 32: A BATALHA DE
CANANÉIA
Cananéia nos dias atuais |
No final de agosto de 1932, os
soldados santamarenses ocupavam o Estado do Paraná após importante vitória
conseguida em Xiririca (hoje Eldorado/SP). A localidade de Porto da Linha, na época um importante centro rádio-telegráfico e hoje um bairro de Guaraqueçaba/PR, foi,
durante 15 dias, ocupada pelos soldados de Santo Amaro. Ante a superioridade numérica
do adversário, foi determinado recuo para São Paulo, mais precisamente para
Colônia Santa Maria, localidade a oeste do município de Cananéia. Para reforçar
o contingente que se retraía, mais soldados da Companhia Isolada do Exército de
Santo Amaro – CIESA, voluntários de Iguape e de Cananéia e ainda soldados da
Força Pública (9º BCP) foram deslocados de Registro para o novo teatro de
operações a fim de conter os soldados ditatoriais que invadiam São Paulo por
sua divisa sul-litorânea. A tropa,
comandada pelo 1º sargento da CIESA Sebastião Rodrigues de Campos, chegou à
Colônia em 05/09/1932 após serem transportados em barcos pelo Rio Ribeira e
pelo Mar Pequeno.
Soldados transportados pelo Rio Ribeira no vapor "Rio Una" |
Os
combates em Colônia Santa Maria: Ás margens do Mar Pequeno
e a 60 km de Cananéia ficava essa colônia de imigrantes alemães e austríacos
que em 1932 era habitada por 38 famílias que se dedicavam à rizicultura. Para
essa localidade, hoje parte do Parque Estadual Lagamar, partiram os soldados
paulistas a fim de dar combate às tropas ditatoriais comandadas pelo tenente
Pedro Tromwposki. Em 09/09/1932 iniciou-se intenso combate no qual os paulistas,
em inferioridade numérica, derrotaram os soldados ditatoriais que no combate
perderam oito homens, tiveram diversos feridos, deixaram três prisioneiros,
entre eles um oficial. Durante a fuga, deixaram os inimigos no campo de luta
mais de 5.000 cartuchos de munição, 3 fuzis-metralhadoras, 15 fuzis, 16
barracas, cobertores e víveres. As forças constitucionalistas tiveram apenas 3
feridos levemente que foram socorridos à Santa Casa de Cananéia. Os combates em
Colônia Santa Maria prosseguiram até 17/09. Mais uma vez, ante a superioridade
numérica do inimigo, os soldados paulistas tiveram que abandonar a localidade retirando-se
em barcos para a cidade de Cananéia onde aportaram em 18/09.
Parque Estadual Lagamar - Cananéia/SP |
A
defesa da cidade: Naquele mesmo dia um pelotão da CIESA,
comandado pelo tenente Lobo chega também à cidade para reforçar a tropa do
sargento Campos. O novo contingente, devidamente municiado, toma posição na
localidade denominada Mandira, um antigo quilombo na estrada que liga o
distrito de Itapitingui, ao norte de Cananéia, à Colônia Santa Maria, àquela
altura já ocupada pelos ditatoriais. Ainda na organização da defesa da cidade
outros dois grupamentos são posicionados nos distritos de Cubatão (de onde
partiam os barcos do continente para a Ilha de Cananéia) e de Morretes no braço
de mar que vai ao distante bairro de Ariri, limítrofe à localidade de
Ararapira/PR.
Ararapira/PR - década de 20 |
No dia 20, procedente do
sul, ancorou, na Ilha do Bom Abrigo, um destróier da Marinha que trazia a
reboque uma lancha que no dia 21 tentou atacar a cidade. O ataque foi rechaçado
pela guarnição que defendia Cananéia. No dia seguinte, temendo-se novos ataques
por mar a partir do destróier, ordenou-se a evacuação da guarnição da cidade de
Cananéia para o distrito de Cubatão. Em 23 de setembro Cananéia foi ocupada
pelo inimigo.
Ilha do Bom Abrigo |
Eis que, descumprindo ordens
superiores, um grupo de trinta soldados santamarenses decide retomar a cidade. E
assim o fazem após renhido combate no qual foram feitos 16 prisioneiros
(inclusive 1 oficial) do exercito inimigo. Permanecem na defesa da cidade
retomada apenas 5 homens armados de fuzis e uma metralhadora pesada. A 26 de
setembro essa pequena guarnição evita nova invasão da cidade pelo inimigo em
barcos que, acreditando estar a cidade abandonada, entregam suas armas. Foram
feitos 80 prisioneiros, entre eles oficiais e médicos. Foram apreendidos ainda
80 mil cartuchos de munição, 5 metralhadoras e material cirúrgico suficiente para
a montagem de um hospital de campanha. Esse foi, sem dúvida, um dos mais
brilhantes feitos da Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro e de toda a
Revolução Constitucionalista!
O guarnição da cidade é
novamente reforçado e no dia seguinte é duramente atacado por um contingente
inimigo cinquenta vezes maior. O comandante da tropa inimiga exige que o
comandante da CIESA se renda com seus homens. Este convida o comandante inimigo
a vir buscar as armas de seus soldados...
Cananéia permaneceu em mãos
paulistas até o fim da Revolução, em 2 de outubro de 1932.
O teatro de operações da Batalha de Cananéia em 1932 |
Referências
Caldeira, João Netto. “Álbum
de Santo Amaro: A História dos Santamarenses”. Ed. Bentivenga e Netto, 1935
Jornal Folha da Manhã de 17
e 24 de setembro de 1932 (www.acervo.folha.uol.br)
Acessos em 16/11/2016