CAMPANHA "OURO PARA O BEM DE SÃO PAULO"
Com o intuito de arrecadar fundos para o financiamento do
movimento revolucionário, criou-se, em 1932, a Campanha “Ouro Para o Bem de São
Paulo” ou “Ouro Para a Vitória”.
Organizada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) que
em 9 de agosto constituiu comissão a ser encarregada da campanha. Compunham a
comissão Carlos de Souza Nazaré (Presidente da Associação Comercial), José
Maria Whitaker, Numa de Oliveira, Vicente da Almeida Prado, Monsenhor Gastão
Liberal Pinto, Erasmo de Assumpção e Gastão Vidigal, todos integrantes da diretoria
da ACSP.
O objetivo da campanha era o de conclamar todos os paulistas
a doarem objetos de ouro bem como joias e outros objetos de valor que pudessem
financiar a luta contra a ditadura de Getúlio Vargas e seu Governo “Provisório”.
A iniciativa, assim como tantas outras durante a Revolução,
se espelhava em campanha semelhante feita por franceses durante a I Guerra
Mundial.
Acreditava-se que nenhum paulista deixaria de fazer sua
contribuição mesmo que fosse com uma pequena quantidade de ouro para a “vitória sagrada de São Paulo e do Brasil, na
vida de luta ou de morte em que estaremos emprenhados.” Os donativos eram “a opulência de sentimento cívico dos
paulistas.[1]
Casais doaram suas alianças, médicos e advogados seus anéis
de formatura, jovens desportistas as suas medalhas. Na capital e no interior recebiam-se ainda
todo e qualquer tipo de objeto de ouro como canetas, vasos, cigarreiras.
Para as alianças de casamento (maior patrimônio de tantos
casais) e anéis de formatura entregues, dado o valor sentimental dessas joias,
em troca recebiam os doadores anéis de latão, de valor simbólico, com a
inscrição “Dei Ouro para o bem de São Paulo” acompanhado ou não de um diploma.
Anel de valor simbólico conferido aos doadores |
Diploma da Campanha do Ouro |
A cada dia cresciam as doações bem como a identificação
popular com a campanha. Empresários, presidentes de entidades e religiosos
vinha a público, pelo rádio, externar seu apreço à causa e conclamar o povo a
aderir.
Até o final da campanha, dias antes da derrota militar,
haviam sido recebidos quase 33.000 donativos.
Próximo ao dia do armistício, por rádio, o General Klinger
(comandante das tropas constitucionalistas) fala ao General Góes Monteiro
(comandante das tropas ditatoriais) da determinação de gente bandeirante em
sustentar a guerra entregando donativos para a campanha:
“...os ricos entregam
o seu ouro, com discrição britânica e bravura romana, atributos bem
brasileiros; as senhoras despojam-se de suas joias; os bispos entregam o ouro
das igrejas e as suas próprias cruzes
peitorais; os casais pobres levam à coleta suas alianças; os advogados, os
médicos, os seus anéis...”
General Bertoldo Klinger |
Na antevéspera da ocupação da cidade pelas tropas
ditatoriais, receando-se que o ouro paulista caísse nas mãos do Governo
Provisório, a comissão organizadora da campanha revolveu doar à Santa Casa de Misericórdia
o que havia restado desse tesouro popular.
Com os recursos obtidos com a venda do ouro recebido, a
Santa Casa (na época já em dificuldades financeiras) construiu um edifício de
salas comerciais no centro de São Paulo: o prédio Ouro Para o Bem de São Paulo
que até esta data integra seu patrimônio.
Prédio Ouro Para o Bem de São Paulo localizado na rua Álvares Penteado |
Hernani Donato: A
Revolução de 32. Editora Circulo do Livro, 1982
Revista Digesto Econômico. Edição de Maio/Junho de 2012. Associação
Comercial de São Paulo