A
IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SANTO AMARO
A imigração alemã no Brasil
começa na década de 1820 quando, por meio de um decreto, Dom João VI convida
diferentes regiões da Alemanha a enviarem seus excessos populacionais ao Brasil
a fim de aqui estabelecerem colônias. Naquele ano é fundada a colônia agrícola
de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, que recebeu 265 famílias de suíços católicos,
num total de 1458 imigrantes, os pioneiros da imigração germânica no Brasil.
Já no Primeiro Reinado, em
1825, Dom Pedro I (cuja primeira esposa, D. Leopoldina, era de origem
germânica) determina a ida do major Jorge Antônio Von Schaeffer às regiões da Áustria,
Prússia e Bavária. Sua missão era a de contratar militares para ajudar na
consolidação da independência no sul do país e ainda buscar colonos agrícolas
para o trabalho em províncias como a de São Paulo. Estando a Europa e em
especial a Alemanha passando por grave recessão econômica, não foi difícil para
o major Von Schaeffer recrutar um grande número de alemães dispostos a começar uma
nova vida no Brasil.
Em 1827 chegam, ao Rio de
Janeiro as primeiras famílias. Depois de algum tempo são reembarcadas com
destino ao porto de Santos onde aportam a 13 de dezembro daquele ano. Eram 149
famílias, num total de 926 indivíduos dos quais 72 não casados.
Na província de São Paulo
foi nomeado diretor da colônia o Dr. Justiniano de Melo Franco, fluente no
idioma alemão por haver estudado medicina na Alemanha. Coube a ele encontrar o
melhor lugar para a instalação da colônia. Foram cogitadas localidades como
Juquiá, São Vicente, Itanhaém, mas em um primeiro momento nada estava ainda
resolvido.
O Dr. Justiniano acabou por
se decidir por um conjunto de terras devolutas (pertencentes à Coroa)
localizadas em Santo Amaro, que distavam 4 léguas ao sul do centro da freguesia
(atual distrito de Parelheiros). Ali estabeleceram-se 94 famílias num total de
336 indivíduos originários na sua maioria das regiões da alemãs da Prússia e da
Renânia, região de Rundsrueck. Entre aquelas que originalmente se estabeleceram
em Santo Amaro estavam as famílias Kirst, Sellig, Klein, Gilcher, Helfstein,
Schunk, Conradt, Schneneider, Theisen, Kaspers, Schmidt, Gottfried, Reimberg,
entre outras.
Para se estabelecerem como
colonos receberiam incentivos do Governo Imperial tais como: recebimento em
doação de terra virgem para o cultivo; auxílio financeiro diário por um ano e
meio; animais domésticos de tração como cavalos e bois; ferramentas; semantes; isenção
de impostos; assistência médica, educacional e religiosa (católica).
Mas o prometido pelo governo
não veio e os alemães ficaram à própria sorte. Como se isso não bastasse,
passaram por uma série de dificuldades. A terra recebida não se mostrou fértil
como o prometido. Os colonos passaram a ser acometidos por doenças tropicais e
sem assistência médica e longe dos grandes centros passaram a morrer. Cristãos
protestantes, não podiam professar sua crença abertamente (o que era vedado
pela Constituição de 1824). Acabavam batizando seus filhos na Igreja Católica e
enterrando seus mortos junto a lápides católicas o que não era visto com bons
olhos pelos católicos. Apenas na década de 1840 construíram um pequeno templo e
um cemitério.
Apesar das dificuldades
prosperaram. Graças ao trabalho desses imigrantes Santo Amaro já era considerada,
a meados do século XIX, o “celeiro da capital”, responsável pela maior parte
dos produtos vendidos no Mercado de São Paulo tais como feijão, milho, arroz,
mandioca e batata inglesa, sendo que Santo Amaro foi, por muito tempo, o único
produtor nacional desse tubérculo tão importante para a culinária alemã. Os
alemães ainda comercializavam em São Paulo: gado, aves, madeira, carvão,
tijolos todo levado à capital em carro de boi principalmente até a entrada em
atividade dos primeiros trens a vapor, com destino à Capital em 1886.
Os colonos foram aos poucos
se misturando à população rural de Santo Amaro. Tamanho era o isolamento desses
alemães e a falta de instrução formal em escolas para seus filhos (e dos
intérpretes prometidos) que aos poucos os imigrantes e seus descendentes foram
perdendo a língua, as tradições e os costumes alemães. Essa falta de educação
formal contribuiu ainda para a alteração na grafia de seus sobrenomes. Dessa
forma Gottfried transmudou-se para Gotsfritz, Kasper para Casper (ou até
Gaspar), Gilcher para Guilger, Sellig para Zilling, entre outras alterações.
Costumes culinários como o consumo do joelho de porco, dos cremes de leite, dos
chucrutes foram substituídos pelos brasileiríssimos feijão com arroz, mandioca,
farinha e palmito que iam buscar no mato. O isolamento e dificuldade de acesso
à educação formal contribuíram em muito para o acaboclamento dos alemães o que deu origem aos famosos “caipiras
alemães” ou “caboclos loiros” de Santo Amaro.
Os alemães fundaram vilas no
interior de Santo Amaro como as do Cipó e a de Parelheiros. Para poderem se
locomover entre a mata fechada abrem estradas interligando as vilas e fazendas
com o centro da cidade.
Com o passar dos anos a
colônia se desfez (em 1847 só restavam na colônia 9 famílias) e muitas famílias
a deixam com destino a outros pontos da zona rural do município. Algumas migram
para a zona urbana em busca de novas oportunidades no comércio e nos serviços,
inclusive o público. Habilidades mecânicas eram raras no Brasil daquele tempo e
por isso mesmo bem pagas. Assim, apareceram alguns oficiais mecânicos, um
alfaiate, um sapateiro, tanoeiros, serralheiros e torneiros entre os alemães de
Santo Amaro.
Em 1883 assume o cargo de vereador
o primeiro descendente de alemães: Antonio Theisen. Nas legislaturas seguintes
outros como os famosos Luiz Schmitdt, José Guilger, Frederico Hessel, Adão
Helfestein, etc. Alguns deles inclusive chegaram a ocupar a prefeitura do
município.
No início do século XX
dentre as personalidades mais importantes de Santo Amaro estavam descendentes
daqueles pioneiros que com muito trabalho e disciplina germânica conquistaram o
progresso em suas novas vidas nas terras tupiniquins.
A
família Peggau em Santo Amaro
O alemão Andreas Peggau saiu
da Alemanha, mais precisamente da cidadezinha de Konigslutter, Baixa Saxônia,
com destino ao Brasil no final do século XIX. Viúvo, estabeleceu-se na cidade
de Gaspar, Santa Cararina com suas duas filhas Auguste e Katharine. Lá dedicou-se ao trabalho em serrarias
juntamente com outros parentes que antes dele haviam imigrado para o Brasil. Aqui
contrai novo matrimônio com Emilie Peggau, brasileira nascida em Blumenau/SC,
filha de alemães. Tiveram 7 filhos: Otto, Klara, Ida, André, Helena, Augusto e
Germano (de quem descende o autor deste blog).
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Cidade de Konigslutter, Alemanha |
No começo da década de 1910
Andreas Peggau e sua família mudam-se para Santo Amaro atraídos pela grande quantidade de alemães bem estabelecidos no município.
Viveu por muitos anos na Rua
Jupi, uma travessa da Avenida Barão do Rio Branco.
Faleceu em 1944 tendo sido
sepultado no Cemitério Municipal de Santo Amaro.
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Andreas e Emilie Peggau com os netos no final da década de 30
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REFERÊNCIAS
BERARDI, Maria Helena
Petrillo. Santo Amaro Memória e História – da botina amarela ao chapéu de
couro. Scortecci Editora: São Paulo, 2005.
Wikipedia
Arquivos pessoais