O MUNICÍPIO DE SANTO AMARO E A REVOLUÇÃO DE 1932
Em 10 de julho de 1932 Santo
Amaro comemoraria 100 anos de existência como município. Uma grande festa havia sido programada para aquela
data. Dentre as atrações se destacavam: às 9 da manhã desfile cívico-militar,
às 10 missa campal e pela noite, às 20 horas representação da ópera “Rigoletto”
de Giuseppe Verdi no Teatro São Francisco por uma companhia lírica. Durante aquele dia funcionaria ainda, nas
dependências do Grupo Escolar da cidade, uma grande exposição-feira.
A prefeitura da cidade, em abril
daquele ano, havia conseguido junto ao Governo do Estado 50 contos de réis para
a realização dos festejos que deveriam se estender até o dia 25 de julho.
Tudo fazia prever que os festejos
chegariam a seu término, em clima de muita animação, chegando a Santo Amaro,
nos bondes, ônibus e automóveis milhares de pessoas vindas de todas as partes.
Na noite do dia 9 de julho, em
São Paulo, estudantes e membros da Força Pública invadem estações de rádio, de telégrafos
e telefônicas dando início à Revolução Constitucionalista de 1932.
Nas primeiras horas da bela manhã
ensolarada do dia 10 de julho, chega a Santo Amaro a grande notícia vinda da
capital:
“Como uma bomba aqui chegou a
notícia tremenda: São Paulo, altivo e forte como sempre, glorioso e intrépido
como nunca, esgotados os meios brandos, cansado de pedir com humildade a volta
do país ao regime legal, levantara-se, e de armas em punho exigia a Constituição!
Era a guerra sem trégua pelo direito e pela justiça, competindo a cada paulista
digno desse nome o abandono de tudo, sendo trocado o conforto dos lares pelas
agruras das trincheiras em que tremulava o lábaro sacrossanto, listado de negro
e branco!” 1
O santamarense se viu então obrigado
a esquecer dos festejos de sua cidade, suspendendo-os, para imediatamente
trocar o smoking pela farda cáqui do Exército Constitucionalista.
Na manhã do dia 10, oradores
discursavam da sacada da Câmara Municipal esclarecendo à população os
acontecimentos que haviam ocorrido na capital no dia anterior e a situação do
Estado que se via envolvido na maior guerra civil de sua história. As pessoas
acompanhavam atentamente as palavras e em uníssono davam vivas a São Paulo.
A comissão responsável pelos
festejos reúne-se com o prefeito e membros do legislativo municipal na Câmara.
Decidem partir, em automóveis, para São Paulo, ao Palácio dos Campos Elísios
(sede do Governo do Estado) a fim de prestar apoio ao Governador naquilo que
seja necessário ao movimento revolucionário. Lá são recebidos por Pedro de Toledo que os
direciona ao Coronel Euclydes Figueiredo, comandante operacional das forças
constitucionalistas. O militar indaga a um membro da comissão o que queriam e
este responde de forma convicta: Armas e munição! O Coronel pensa por um
momento e em seguida declara: “Está organizada a Companhia do Exército Isolado
de Santo Amaro”. Primeiro contingente constituído na Revolução de 32. A Companhia
passaria a ser conhecida pela sigla CIESA e chegaria a contar com 300 homens.
Coronel Euclydes Figueiredo (à esquerda)
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Voluntários de Santo Amaro ao lado do prédio da prefeitura do municipal |
Toda a comissão de festejos do
centenário passa a integrar a Companhia. O secretário da comissão, o tenente2 Luiz Matos de Araújo
assume o comando ficando no sub comando o tenente Moupyr Monteiro. Os demais
integrantes da comissão ocupam outras funções na Companhia como médicos,
capelão, engenheiros, sargentos e soldados, todos de Santo Amaro, sem exceção.
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Soldados em instrução |
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CIESA em marcha pelas ruas de Santo Amaro |
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Soldados na Avenida Adolfo Pinheiro |
A CIESA, por ordem do Coronel
Euclydes, dirige-se então à cidade de Santos (após rápido estágio na serra de
Cubatão), onde deveriam se apresentar ao comandante do Exército Constitucionalista
naquela cidade, o Coronel Mello Matos.
Este determina que ocupem a divisa com o
Paraná, no litoral.
A CIESA ocupa a linha que vai de
Cananéia à Xiririca (hoje Eldorado Paulista) entrando nesta última cidade após
desalojar o inimigo que aí se colocara em perseguição às forças dos batalhões
constitucionalistas “Barbosa e Silva” e “Marcílio Franco” que haviam recuado a
partir do setor de Apiaí.
Após renhidos combates a CIESA
não só expulsa os inimigos da cidade como também captura várias metralhadoras
deixadas por eles durante a fuga. O comando da Companhia decide avançar Paraná
adentro tomando a cidade de Porto da Linha, na baía de Paranaguá, importante
trevo radio-telefônico. Durante os 15 dias que se seguiram é a única força
paulista sediada em território inimigo.
Por ser muito extensa a linha de
combate, a CIESA se retira para Cananéia que é retomada pelo inimigo em poucos
dias. Os soldados santamarense reagem e uma patrulha de apenas 30 homens retoma
a cidade após duro combate no qual são feitos 16 prisioneiros do exercito
inimigo. Passam a guarnecer a cidade apenas 5 soldados as CIESA armados de uma
metralhadora pesada. Essa pequena guarnição evita uma invasão do inimigo em
canoas obrigando-os a se renderem e a entregarem suas armas. Mais 80 soldados
inimigos são feitos prisioneiros. Este foi sem dúvida um dos mais brilhantes
feitos da CIESA e de toda a Revolução de 1932.
A CIESA então se divide em dois
pelotões: um reforça o contingente de Cananéia e o outro se dirige aos combates
em Itapitangui ao norte. O pelotão que guarnece Cananéia é duramente atacado
por um contingente inimigo cinquenta vezes maior. O comandante da tropa inimiga
exige que o comandante da CIESA se renda com seus homens. Este convida o
comandante inimigo a vir buscar as armas de seus soldados...
A CIESA ainda auxiliaria a Força
Pública de São Paulo na liberação de Xiririca que se encontrava cercada pelo
inimigo. O contingente é dividido em duas colunas: uma deveria seguir pela
estrada Jacupiranga-Xiririca e a outra deveria subir o Rio Ribeira em barcos.
No dia seguinte a CIESA rompe o
cerco e pela segunda vez toma Xiririca. Nesta batalha morre o soldado
voluntário santamarense Delmiro Sampaio, única baixa da Companhia durante toda
a campanha.
Ao final da Revolução a CIESA
havia sofrido apenas essa baixa e tinha ainda mais 18 feridos. O corpo médico da Companhia fez
excelente trabalho fundando na área da atuação da CIESA 5 hospitais de emergência e um hospital central em Pariquera-Açú. Como medida
preventiva, fazia o corpo médico que todos os integrantes da CIESA tomassem
diariamente um comprimido de quinina (medicamento com funções antitérmicas,
antimaláricas e analgésicas).
Ao final da campanha, com todo o
setor sul tomado pelos inimigos sulistas, a Companhia recebe ordens de voltar a
Santos e ajudar no policiamento de cidade que era palco de uma grande greve de
estivadores.
Em 12 de outubro, já cessadas as
hostilidades entre revolucionários e legalistas, a CIESA desfila na cidade de
São Paulo indo da Estação da Luz à Praça da Sé sob aplausos da população
paulistana.
1 Caldeira,
João Netto. “Álbum de Santo Amaro: A História dos Santamarenses”, 1935, pág.
93.
2 Comissionado
posteriormente no posto de Capitão.
BIBLIOGRAFIA
CALDEIRA, João Netto. “Álbum de Santo Amaro: A História dos Santamarenses”. Ed. Bentivegna e Netto, 1935
BERARDI, Maria Helena Petrillo. "História dos Bairro de São Paulo: Santo Amaro". Ed. Prefeitura de São Paulo, 1969
FOTOS
http://tudoporsaopaulo1932.blogspot.com.br/2014/07/a-epopea-de-piratininga.html
http://tudoporsaopaulo1932.blogspot.com.br/2013/03/imagens-da-revolucao.html
Projeto "A fotografia como concepção histórica" do Prof. Carlos Fatorelli
CETRASA - Centro das Tradições de Santo Amaro