O
Bandeirantismo e o Ideal Revolucionário de 1932
As
Bandeiras Paulistas
Bandeirantes é a denominação
dada a sertanistas do Brasil Colonial que, a partir do século XVI, penetraram
no sertão brasileiro em busca de metais preciosos (como ouro e prata), captura
de índios e ainda para combater quilombos e aldeamentos indígenas bravios.
Os mais famosos bandeirantes
nasceram no que é hoje o Estado de São Paulo. Descendentes de primeira e de
segunda geração de portugueses bem como europeus, não apenas portugueses, mas
também galegos, castelhanos, entre outros. Além do português, os bandeirantes
comunicavam-se em tupi assim como boa parte dos habitantes de São Paulo dos
séculos XVI, XVII e XVIII.
Coragem e espírito de
aventura eram características dos bandeirantes que partiam da Vila de São Paulo
e de suas adjacências em direção ao sertão, vagando durante anos por meio das
matas, muitas vezes sem qualquer conhecimento de astronomia ou geografia. As
expedições caminhavam sobretudo em direção noroeste e oeste em busca do limite
do Brasil que era o Rio Paraná.
Os bandeirantes foram
grandes responsáveis pela interiorização do Brasil para além dos limites
determinados pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, firmado entre Portugal e
Espanha. Como consequência das expedições, todo o centro oeste passou a
pertencer ao Brasil sendo criadas, em 1748, as capitanias de Goiás e Mato
Grosso. As expedições dirigiram-se também ao sul, ultrapassando o limite
austral do Tratado, que era a região de Laguna em Santa Catarina. Em pouco
tempo os bandeirantes chegariam à região das Missões no Rio Grande do Sul.
A ação dos bandeirantes foi
de grande importância na exploração do interior brasileiro, bem como na
manutenção da economia do Brasil Colônia. As expedições geraram consequências
positivas para o comércio já que os índios capturados e vendidos eram
importante mão de obra para a agricultura principalmente da cana-de-açúcar. É
ainda creditado aos bandeirantes a descoberta de diversas jazidas de pedras e
metais preciosos nos estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, gênese do
ciclo da mineração que marcaria a economia brasileira no século XVIII.
Houve três tipos de
bandeiras: a) bandeirismo de preação (ou apresador) dedicado a captura de
índios para depois vende-los como escravos (prática proibida desde 1595); b)
bandeirismo prospector voltado para a busca de pedras e metais preciosos; c)
bandeirismo (ou sertanismo) de contrato dedicado a combater aldeamentos de
índios bravios e negros organizados em quilombos (entre eles o Quilombo dos
Palmares no século XVII).
Em 1628 partiu da Vila de
São Paulo a maior bandeira conhecida. Composta por quase de 4000 homens (900
brancos e 3000 índios) partiram para o sertão (região de Guaíra) para de lá
expulsar jesuítas espanhóis e prender quantos índios pudessem.
Foram bandeirantes célebres,
entre outros: Antônio Raposo Tavares, Bartolomeu Bueno da Silva (o Anhanguera),
Brás Leme, Afonso Sardinha, Domingos Jorge Velho, Francisco Dias Velho, Gabriel
de Lara, Manuel Preto, Mateus Grou, Nicolas Barreto, Fernão Dias Paes Leme e
Manuel da Borba Gato (natural de Santo Amaro).
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O Bandeirante Domingos Jorge Velho em pintura de 1903 (Wikipedia)
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O Bandeirante Santamarense Manuel da Borba Gato
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A
“paulistanidade” e o espírito bandeirante em 32
O Estado de São Paulo em
1932 era o estado mais rico e importante economicamente para a Nação.
Desde o final do século XIX
e, em especial nas décadas de 10 e 20, a economia do Estado prosperou enormemente,
sobretudo por conta da produção e exportação de café. Naqueles anos, São Paulo
era responsável, sozinho, por 70% da produção nacional e quase metade de todo o
café consumido no mundo. Em São Paulo se dizia que o Estado era como uma
locomotiva que, impulsionada pelo café, rebocava os outros estados da federação
rumo ao progresso.
São Paulo gozava ainda de
farta e barata energia elétrica, a melhor rede ferroviária do Brasil, o porto
de Santos (já um dos maiores do mundo) e uma população consumidora em expansão.
Isso tudo, somado ainda a uma forte diminuição das importações, entre 1914 e
1918 (1ª Guerra Mundial) impulsionou fortemente a indústria no Estado. Em 1914
havia no país 6000 fábricas, que em 1920 subiriam a 13336 e em 1930 passariam
das 20000. Mais de 70% de todas essas
indústrias estavam localizadas no Estado de São Paulo.
Desde a década de 1890, a pujança
econômica de São Paulo já criava entre os paulistas um forte sentimento de
excepcionalidade frente aos demais brasileiros ou de "paulistanidade". Os políticos paulistas alimentavam esse
sentimento como se observa no discurso do então presidente do Estado,
Bernardino de Campos, em 1893: “o atual
regime fortalece ao Estado os mais amplos e eficazes elementos de felicidade e
riqueza, em pleno gozo de uma esplêndida civilização, desde que a sua atividade
se desenvolva pacificamente, livre de agitações e abalos que perturbem o seu
andamento. Para garantir-lhes estes bens inapreciáveis, é bastante que não
tirem ao Estado de São Paulo as condições que já possui e que constituem os
característicos de sua índole – paz, ordem, trabalho, economia.” Ou ainda
Rodrigues Alves, seguro da auto-suficiência do povo paulista, em 1912: “a cidade de São Paulo desenvolve-se por si
mesma, e pode-se dizer, com vertiginosa rapidez.” Em 1926, quando da
fundação do Partido Democrático, Waldemar Ferreira (que durante a Revolução
viria a ocupar o cargo de Secretário da Justiça) discursava ressaltando a responsabilidade
de São Paulo “na integração territorial e
política do Brasil, desde o bandeirantismo até a proclamação da República.”
Nesse contexto, afirma o
historiador Marco Cabral dos Santos que “a valorização da imagem do bandeirante
como antepassado mítico do paulista, caracterizado pela bravura e pelos
grandiosos feitos, fermentou o imaginário político, reproduzindo a ideia de que
o papel relevante desempenhado pela cafeicultura paulista era uma decorrência direta
da formação singular de seu valoroso povo, amante do trabalho e do progresso.”
Com o intuito de elevar o
moral das tropas e incendiar os corações do povo paulista pela Revolução,
durante toda a campanha, circulavam pelo Estado textos, poemas, cartazes, canções e até
notas de dinheiro revolucionário apresentando a imagem do bandeirante paulista:
“O despertar de São Paulo 9 de julho foi a metempsicose da raça. Saíram
dos seus jazigos as almas de Raposo, Borba Gato, Anhanguera. Reencarnaram-se no
moço delirante que sobraçou o fuzil e se improvisou soldado!
Ibsen
tinha razão: Fantasmas!
Fantasmas
gloriosos! As gerações reencarnam-se nas outras gerações. São os espectros que
animam os vivos.
O
mesmo sonho de penetração, das bandeiras, renovou-se da conquista da
civilização. Reintegrar a lei! Ontem era mister integrar a pátria. Mas a lei é
a pátria dos povos civilizados e cultos. Daí o bandeirismo de 10 de julho, dia
da partida das novas monções articuladas no mistério da noite de 9.”
Menotti del Pichia
Hino Constitucionalista de
1932
Da
alma cívica de um povo,
Irmanado
nas trincheiras,
Surgem
as novas Bandeiras,
Criando
um São Paulo novo.
Povo
heroico à luta afeito,
Firma a sua tradição,
Tendo
nas mãos o direito,
E
a pátria no coração.
Marchemos
cheios de glória!
Conosco
marcha a vitória!
Marchemos
cheios de glória!
Conosco
marcha a vitória!
Anima
o surto grandioso,
Que
a nossa alma retempera,
A
ânsia feita de Raposo,
E
a firmeza de Anhanguera
Rumando
a novas conquistas,
Fiel
ao destino da raça,
Ei-lo
abre alas paulista,
Pois
é São Paulo que passa!
Marchemos
cheios de glória!
Conosco
marcha a vitória!
Marchemos
cheios de glória!
Conosco
marcha a vitória!
(composto por Marcelo Tupinambá
e gravado por Francisco Alves em 1932)
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Capa do Jornal Folha da Manhã de 09 de Julho de 1935 |
Referências Bibliográficas
DONATO, Hernani." A Revolução de 32". São Paulo, Círculo do Livro,1982
DOS SANTOS, Marco Cabral. "São Paulo 1932 - Memória, mito e identidade". São Paulo, Alameda, 2010.
Wikipedia
Imagens
MARTINS, José de Barros. "Álbum de Família 1932". São Paulo, Círculo do Livro, 1982
www.tudoporsãopaulo1932.com.br